O Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Bauru e Região (Sinserm) acompanhou presencialmente a entrevista coletiva concedida por Damaris Nunes de Faria Pavan na manhã desta quinta-feira (15). O que se ouviu no encontro — aberto à imprensa local e à sociedade — é escandaloso e revoltante: a ex-assessora de confiança do governo Suéllen Rosim relatou, com detalhes, a existência de práticas graves envolvendo o repasse irregular de objetos públicos para entidades associadas à própria família da prefeita.
Segundo o relato, Damaris afirma ter participado diretamente da retirada de diversos bens da Prefeitura Municipal, sob ordens superiores, e que esses objetos teriam sido levados a uma igreja vinculada à família Rosim e à escolinha de futebol gerida por Dozimar Rosim, pai da prefeita. Os materiais desviados seriam produtos doados pela Polícia Civil à administração municipal, após apreensão em operações policiais, incluindo eletrodomésticos de grande porte como freezer, lavadora de louças, aspirador de pó e aparelhos de TV. Ainda segundo a ex-servidora, cestas básicas também teriam sido entregues de forma irregular, por determinação de pessoas próximas ao gabinete da chefe do Executivo.
O Sinserm questionou Damaris durante a coletiva sobre sua trajetória profissional enquanto esteve lotada em órgãos como a Emdurb e a antiga Sear (atual Secretaria de Serviços Urbanos). Em resposta, a ex-comissionada afirmou que sempre teve uma conduta exemplar, desenvolvendo seu trabalho com dedicação, cordialidade e pleno respeito às funções que lhe foram atribuídas, mantendo boas relações com colegas e superiores. Instada pelo sindicato a opinar sobre sua segurança após tornar públicas essas denúncias, Damaris foi firme ao dizer que não teme por sua integridade física, reforçando sua confiança em Deus e afirmando que não irá recuar, pois "a verdade precisa vir à tona".
Os fatos narrados colocam em xeque a integridade moral e a idoneidade da gestão da prefeita Suéllen Rosim e de sua mãe, Lúcia Rosim, que também foi citada como articuladora de algumas das ações irregulares. De acordo com a ex-servidora, Lúcia teria determinado pessoalmente o carregamento de cestas básicas em veículos particulares, sem qualquer tipo de controle institucional, alegando que os alimentos seriam destinados a "projetos sociais" — justificativa esta que não pode substituir os princípios da legalidade e da impessoalidade que regem a administração pública.
O mais estarrecedor é que as denúncias não são novas para Suéllen Rosim. Damaris revelou que comunicou diretamente a prefeita sobre os episódios ainda em 2023, numa reunião dentro do próprio gabinete do Executivo. E, ao invés de encaminhar o caso às autoridades competentes, como seria o esperado de uma gestora pública comprometida com a ética e a transparência, Suéllen teria minimizado os acontecimentos, alegando que parte dos bens “já estava retornando”. Essa reação, além de inaceitável, pode configurar omissão dolosa diante de fatos graves, que exigiriam, no mínimo, a instauração de um processo disciplinar interno e o acionamento imediato do Ministério Público.
A resposta oficial da Prefeitura, emitida logo após a coletiva, é igualmente preocupante. Ao invés de se comprometer com a apuração transparente dos fatos, a administração preferiu atacar a denunciante com adjetivos depreciativos, rotulando as acusações de “levianas” e prometendo “medidas cabíveis” — sem sequer citar o conteúdo das denúncias, nem apresentar qualquer esclarecimento técnico ou documental que refutasse os apontamentos. A postura reativa, arrogante e vazia de conteúdo reforça a imagem de um governo acuado e cada vez mais distante da legalidade e da moralidade administrativa.
O Sinserm reafirma sua posição histórica de que cargos estratégicos da gestão pública devem ser ocupados, preferencialmente, por servidores concursados, estáveis e preparados tecnicamente. Essa é a única maneira de garantir a autonomia necessária para que irregularidades possam ser denunciadas sem medo de perseguição política ou exoneração arbitrária. O loteamento da máquina pública por interesses familiares, religiosos e políticos — prática recorrente na atual administração — representa não apenas a deterioração dos princípios republicanos, como também um atentado direto à confiança da população.
Diante da gravidade dos fatos expostos, o Sinserm cobra a instauração imediata de investigação criminal por parte do Ministério Público, a abertura de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) na Câmara Municipal para averiguar o suposto desvio de bens e apurar o envolvimento de agentes públicos e familiares da prefeita, o afastamento cautelar de quaisquer servidores ou colaboradores envolvidos até a completa apuração dos fatos, a ampla divulgação da lista de bens recebidos via doação e seus respectivos destinos nos últimos três anos e a imediata revisão da política de nomeações para cargos comissionados, priorizando a valorização do funcionalismo de carreira.
O povo de Bauru não tolera mais escândalos envolvendo a gestão pública. Os servidores não aceitam mais ver a administração municipal transformada em cabide de emprego para amigos e parentes da prefeita. E o Sinserm continuará ao lado da verdade, da justiça e da transparência.