Na sessão legislativa desta segunda-feira, 16 de junho, a Câmara Municipal de Bauru foi palco de um momento histórico para os servidores públicos aposentados e pensionistas da cidade. A galeria ficou completamente tomada pela categoria, que deu um verdadeiro show de mobilização e unidade. Cada cadeira ocupada simbolizava um grito sufocado por anos de descaso, esquecimento e promessas vazias.

Representando o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Bauru e Região (SINSERM), a diretora Melissa Lamônica fez uso da tribuna da Casa para, com coragem e sensibilidade, escancarar a dura realidade vivida por quem dedicou a vida ao serviço público e hoje sobrevive com dificuldades extremas após a perda do vale-compras – benefício de R$ 1.400,00 que é retirado do servidor assim que ele se aposenta.

"Tem aposentado deixando de comprar remédio para poder comer", bradou Melissa, em um discurso forte e emocionado que repercutiu entre os parlamentares e arrancou aplausos dos presentes. "Tem aposentado dividindo comprimido ao meio para durar até o fim do mês. Tem aposentado que vive com medo de não conseguir pagar o aluguel. Enquanto isso, a Prefeitura economiza R$ 1.400,00 mensais por cada servidor que se aposenta. E não devolve absolutamente nada em troca".

No auge da greve de 2023, a prefeita Suéllen Rosim assumiu publicamente o compromisso de discutir a criação de um auxílio para os aposentados como condição para o encerramento da paralisação. No entanto, após reuniões desmarcadas, desculpas esfarrapadas e total ausência de diálogo, a prefeita alegou que “não havia recursos”.

Mentiu. E continua mentindo. Porque enquanto Bauru nega dignidade aos seus aposentados, Marília (cidade menor e com menos recursos) criou um auxílio de quase R$ 600,00 para os servidores aposentados. Falta vontade política. E a hora de cobrar é agora.

O jurídico do SINSERM, conforme anunciado na tribuna, está finalizando a minuta de um Projeto de Lei que prevê o pagamento de um auxílio mensal no valor de R$ 750,00 aos aposentados e pensionistas. O benefício será custeado diretamente pela Prefeitura (e não pela Funprev) uma vez que a Fundação se encontra em dificuldades financeiras devido à inadimplência da própria Administração.

Foi lida no início da sessão, pelo presidente da Câmara Marcos de Souza, a solicitação oficial para a realização de uma audiência pública sobre o tema, de iniciativa da vereadora Estela Almagro (PT). O evento foi agendado para o dia 30 de julho de 2025, às 9h, no plenário da Casa.

A audiência terá como tema: “Criação de auxílio para a saúde e o bem-estar dos aposentados e pensionistas do município de Bauru”, e buscará debater os caminhos legais, orçamentários e políticos para a instituição definitiva de um auxílio que subsidie despesas básicas como alimentação, medicamentos e moradia – garantias mínimas de sobrevivência que hoje são negadas aos inativos da administração municipal.

A sessão ainda contou com manifestações solidárias por parte de diversos vereadores, como Arnaldo Ribeiro (AVANTE), Estela Almagro (PT) e Márcio Teixeira (PL), que repercutiram a fala do sindicato em seus discursos no rol de oradores, reconhecendo a urgência do tema e comprometendo-se com o debate.

O SINSERM e os aposentados romperam o silêncio institucional que perdurava há anos. Tornaram público o drama de milhares de servidores que, depois de uma vida inteira de trabalho, enfrentam o abandono de uma Prefeitura que nega até mesmo o básico para viver com dignidade.

Agora, o debate está instaurado. A pressão está feita. A cidade ouviu. E os vereadores sabem que não há mais espaço para omissão.

Porque aposentado também vota. E a história saberá quem lutou por justiça — e quem virou as costas para ela.