Estimada população de Bauru, chegamos num momento em que não podemos nos calar. A saúde de Bauru está Doente e muitos culpam a nós, servidores da saúde, pelo o que está acontecendo. Diante disso, unimos nesta carta as aflições e desafios diários enfrentados pela categoria a fim de esclarecer inverdades propagadas no município.
1 - Desde o início da pandemia, nós profissionais da saúde não tivemos nem um dia de folga ou de trabalho remoto. Pelo contrário, o assédio por parte das administrações municipais entre 2020 e 2021 chegou ao ponto de cancelar folgas, adiar férias e congelar salários;
2 - Existem diferenças entre funcionários que atendem em Unidades de Urgência e Unidades Básicas de Saúde (UBSs), sobretudo ao que se refere à jornada de trabalho e tipos de atendimento, porém em todos enfrentamos limitações inerentes às nossas funções;
3 - Com o fenômeno do novo coronavírus, nosso trabalho foi repentinamente dobrado – sem o respaldo de orientações técnicas adequadas – e não raramente, além da estrutura básica historicamente deficitária, faltam Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), indispensáveis para garantir a biossegurança contra o vírus;
4 - O imaginário coletivo sobre "funcionários da linha de frente" contempla apenas a categoria médica, há toda uma equipe de funcionários que recebem, orientam, preparam e cuidam dos pacientes na unidade. Realizamos do primeiro e ao últimos procedimento;
5 - Nas UBSs responsáveis pela armazenamento, cuidados para vacinas e aplicação das mesmas; muitas vezes surpreendidos com mudanças no plano de ação;
5.1 - Em todos os casos, quem sempre está conosco são os funcionários da recepção. Eles atendem a todos, realizam a primeira triagem, trabalham com computadores lentos e programas confusos. Os profissionais da limpeza zelam para que o ambiente de trabalho esteja sempre limpo, esterilizando as salas para evitar a disseminação de doenças e contaminações – sobretudo da Covid-19;
6 - As reclamações da população sobre as horas de espera são legítimas e também nos indignam. Nos esforçamos ao máximo para prestar um serviço ágil e de qualidade a todos, mas existem procedimentos e intercorrências que fogem à nossa capacidade de resolução;
7 - Quando um servidor é acometido por qualquer enfermidade e precisa ser afastado de suas atividades, não há disponibilidade no quadro de funcionários para cobrir esta ausência e cabe aos companheiros de turno acumular funções;
8 - Apesar de trabalhar sob alto risco de contaminação pelo novo coronavírus, não há testagens frequentes para garantir a saúde dos servidores. Até porque, em caso de positivação, o serviço seria desfalcado e a administração age contra isso.
9 - Nas UBSs, os servidores podemos ser convocados para trabalhar fora de seus horários de trabalho e não podem, em hipótese alguma, se negar a cumprir a convocação. Em casa de recusa, decorrem perseguições e punições;
10 - Apesar de todo e qualquer esforço os funcionários não são tratados com prioridade pelas administração e muitas vezes têm o trabalho questionado e mal avaliado.
Estes são algumas da situações que vivenciamos diariamente, mas muitas outras nos são comuns. O objetivo central desta carta é evidenciar que não somos os vilões na e ou principais responsável pelo colapso no sistema público de saúde em Bauru. As decisões que não são discutidas conosco. E sempre somos colocados de lado quando o assunto é aumento de salário ou melhoria nas condições de trabalho e atendimento. Somos os primos pobres da saúde.
Entretanto, a situação chegou a um ponto insustentável. O descaso dos superiores e falta de apoio ou reconhecimento da população tem feito muitos de nós adoecerem. Não é falta de amor pela profissão, é falta de reconhecimento dos nossos esforços. Ausência de empatia. Sem nós, servidores da saúde, o sistema não tem como funcionar e neste caso a cidade não enfrentaria apenas o caos, mas o fim. Estamos pedindo socorro e apresentamos as seguintes reivindicações:
1. Condições dignas e seguras de trabalho;
2. Horas extras feriadas pagas em folha suplementar;
3. Alimentação adequada;
4. EPIs de qualidade e em quantidade suficiente;
5. Fim do assédio para cumprir horas de trabalho fora do previsto em concurso;
6. Salários dignos e aumento proporcional para o ticket alimentação;
7. Responsabilidade social por parte das autoridades;
8. Fim da narrativa 'População x Servidores';
9. Fim do ambiente tóxico de trabalho;
10. Condições seguras de atendimento ao paciente, com equipamento adequados – como oxigênio, oxímetro, pilhas, cateter de O2, cateter venoso, leitos e medicações em geral;
11. Recursos humanos bem preparados;
12. Discutir e informar as equipes de saúde antes da divulgação em meios de comunicação;
13. Sistema de segurança que garanta a integridade física dos funcionários nas UBSs.